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M. Eugénia Prata Pinheiro

sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Reformadores simplex

Estando na ordem do dia para mim, professora do jurássico, o interesse pela legislação relativa às aposentações, fui procurar a última lei.

Aqui deixo cópia do introito cuja leitura me fez desistir de mergulhar no texto que se lhe segue.



Lei n.º 11/2008 de 20 de Fevereiro

Procede à primeira alteração à Lei n.º 53/2006, de 7 de Dezembro,
torna extensivo o regime de mobilidade especial aos trabalhadores
com contrato individual de trabalho, procede à vigésima
sexta alteração ao Decreto -Lei n.º 498/72, de 9 de Dezembro, que
consagra o Estatuto da Aposentação, procede à segunda alteração
à Lei n.º 60/2005, de 29 de Dezembro, procede à primeira
alteração à Lei n.º 52/2007, de 31 de Agosto, e cria a protecção
no desemprego de trabalhadores da Administração Pública.

A Assembleia da República decreta, nos termos da
alínea c) do artigo 161.º da Constituição, o seguinte:

(...) (...) (...) (...)


Valham-me Santo Alzheimer e São Gilles de La Tourette!

APEDE

Cá fica a notícia do Francisco Trindade e o agradecimento pelo trabalho desenvolvido.
Não bastando as pessoas, valha-nos a personalidade jurídica.

Já temos Associação!

Às dez horas seis minutos e vinte e sete segundos recebi das mãos duma simpática e compreensiva (pela nossa luta) funcionária pública o certificado de admissibilidade e o cartão provisório de identificação da nossa associação:

APEDE – Associação de Professores e Educadores em Defesa do Ensino

A partir de agora já temos personalidade jurídica, já não somos somente um movimento de professores o que nos permitirá prosseguir os nossos objectivos que ficaram estabelecidos na nossa reunião das Caldas da Rainha de dia 23 do corrente mês.

O mais difícil está ainda para vir, não tenhamos ilusões de nenhuma espécie em relação a isso! Unidos poderemos conseguir! Vamos a isso!

Francisco Trindade



quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Distinções

Distinguir os professores parece-me uma tarefa paradoxal.

Não são eles já seres absolutamente distintos? Cada um diferente do outro. Como acontece com os alunos.

Pretende-se que a avaliação dos alunos seja sobretudo formativa, uma avaliação para incluir e não para excluir, uma avaliação que sirva para que encontrem caminhos, uma avaliação que os faça entender o que, em cada momento das suas vidas, em cada aula, em cada tarefa, podem aprender.

Isto mesmo serve para os professores e para as escolas. Escolas também elas diferentes umas das outras. Trata-se de sermos capazes de nos observarmos e de descobrir os caminhos de melhoria. E são tantos os olhos disponíveis! Alunos, professores, funcionários, famílias.

Não serve para melhorar nada uma classificação altamente burocratizada dos professores que termina num qualquer carimbo. Só a ideia já está a servir para pôr de pantanas o trabalho com os alunos e as relações entre os professores.

Caras inutilidades para poupança do erário.

sábado, fevereiro 23, 2008

Balancete

Lá fui às Caldas da Rainha.

Fiquei contente por ver ali umas centenas de professores, fartos dos maus tratos a que têm vindo a ser sujeitos. Dispostos a levantarem-se.

Fiquei triste porque não me chegando já ir fumar para o cemitério, deverei fazê-lo agora envergando luto. Estou mais de luta que de luto mas, está bem, um pouco de folclore talvez não faça grande mal.

As coisas não são simples e há uma prisão legalista que nos tolhe o espírito. A legalização de uma associação faz perder tempo. As pessoas associam-se e pronto. As pessoas organizam-se como podem e avançam. Não precisam de ser metidas na ordem (private joke). Blogues, à pressa, reúnem aqui 400, mais acima 500, mais mais acima 1000. Belas associações, sem nome nem registo.

Ficam dúvidas - para que servem providências cautelares? Como o nome indica, face a uma lei, a um processo, a uma medida de que possam resultar prejuízos para as pessoas, ou que possam vir a ser reconhecidas como ilegais interpõe-se, à cautela, a providência em tribunal. Se o tribunal a aceita isso significa que verificou a possibilidade de ilegalidade ou prejuízo e, portanto, a aceitação tem efeitos suspensivos das ditas leis, processos ou medidas. Assim ninguém deveria preocupar-se em dar andamento a papelada iníqua, atabalhoada, suicidária. Deveriam os sindicatos que avançaram com as providências, avançar também de imediato com as acções em tribunal. Esses são os papéis que agora interessam e os advogados saberão disso. Às providências cautelares seguem-se acções no tribunal. E até que as acções entradas tenham decisão, todo o processo fica suspenso.

Naturalmente que os pais apoiarão os professores. Cabe-nos informá-los do que se vai passando, das dificuldades com que nos confrontamos para trabalhar com os seus filhos, do faz de conta que é tudo isto. Se cada professor ou conselho de turma redigir um papel simples e esclarecedor da situação que se vive nas escolas, as famílias saberão colocar-se do nosso lado. E é bom não esquecer que a ligação aos encarregados de educação é valorizada nas "grelhas". Vamos ligar-nos para ter muito boas notas! Somos nós que estamos na escola com os seus filhos, não é a senhora ministra.

Ficou à vista o que comporta já em algumas escolas este fantástico processo classificador. Os secretismos, as negociatas, as imposições. E estamos no princípio. Felizmente também vai ficando à vista um grande número de escolas a recusar mergulhar de cabeça neste abismo.

Também apreciei saber desses lugares onde se fecham escolas públicas e abrem as privadas. Nada que não esperasse mas ver consumado é esclarecedor.

Aproveito para avisar a valente coleguinha nortenha que há sete anos é professora de matemática e, muito justamente, se recusa a pagar para prestar as anunciadas provas de entrada na profissão (entrar já entrou mas com horários incompletos que servem às poupanças estatais) que, se não nos conseguirmos opor a mais esta trapalhice, vou patrocinar-lhe o exame. Dotada de capacidade de análise e de crítica e sem medo vai fazer falta aos meus netos. Aos meus e aos dos outros.

Como espero receber muitos sms, mails e notícias via blogues para outras "associações" onde espero poder estar presente, fico por aqui.

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Caldas da Rainha

A reunião de professores realiza-se na Escola Secundária Raul Proença, na rua D. João II, às 10:30h.

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Que bons comentadores!

Deixou o Outsider um comentário ao texto Petição on-line contra esta avaliação que, obrigando a reflexão, tomo a liberdade de publicar aqui.

Olá setora

"Aqui ao leme sou mais do que eu..." como dizia o outro. E que somos então?

Seguramente não somos ontológicos animais da concorrência. Foi assim que os filhos dos homens se transformaram, desde a "mudança de episteme" (Foucault), no fim do seculo XVIII, início do século XIX. Aí se formou uma sociedade "baseada no valor" (Marx), no sentido de "fazer do dinheiro mais dinheiro", mas que só pôde andar durante algum tempo, graças à "dissociação sexual" (Roswitha Scholz), expediente que consistia em deixar ao cuidado das mulheres os velhos, as crianças e mesmo a sobrevivência do "macho branco ocidental" (Robert Kurz) que tem devastado o planeta nos últimos séculos em busca do “lucro”.

Esta sociedade está a chegar ao fim com a terceira revolução industrial, que desacoplou a produção de riqueza do trabalho. Os robots de Palmela não podem comprar os carros que produzem. Hoje, quando o "one world" do capital transformou a concorrência em “concorrência de crise” (fusões e aquisições em vez de expansão), quando o ex-operário sem trabalho passa os dias a concorrer por um subsídio, também a escola, que já formou sujeitos da concorrência, não lhe bastando pôr os alunos a “estudar para o desemprego” (Vasco Pulido Valente), ainda faz hara-quiri, ao tentar simular a concorrência com as pseudo-avaliações de professores.

Eu sei que isto não é conversa para blog. Mas, se não quisermos sair da "jaula de ferro" (Max Weber) das categorias sociais do "patriarcado produtor de mercadorias", talvez possamos observar lateralmente (uma estrela distante só se vê pelo canto do olho...) o circo mediático em que nos querem enredar.

1. É sabido que a sociologia (quando havia…) fez trabalhos de campo na América que provaram inequivocamente não haver qualquer correlação entre as notas dos alunos e o seu êxito profissional.

2. Também é sabido que a "avaliação do desempenho" nas empresas nos anos oitenta foi um desastre, que levou à paralisia das unidades de trabalho (o que hoje só não se vê porque as informatização, o outsourcing e a deslocalização as fez desaparecer). E não foi apenas porque o chefe promove a amante e não a que ama trabalhar; mas também, sobretudo, porque o relacionamento de um colectivo humano vai muito para além do "homem unidimensional" (Marcuse), que supostamente se move apenas em função da análise custo/benefício. A extensão do desastre pode ser aquilatada pelo facto de a Volvo ter então decidido constituir as célebres "equipas autónomas" nas fábricas de automóveis, não querendo saber do que cada um fazia ou não fazia e preocupando-se apenas com o resultado da equipa.

3. Talvez por isso é que hoje, em Estocolmo, a guerra nas escolas está de facto polarizada na categoria central da “sociedade da mercadoria”, o dinheiro. A discussão é sobre quantas coroas o Estado vai disponibilizar para cada aluno, em cada grau de ensino. A concorrência faz-se de facto no mercado, procurando cada escola cativar o máximo de inscrições com a performance dos seus alunos. E os profs. procuram repartir o bolo tão amigavelmente quanto possível, sabendo que a receita da escola, de x por aluno, há-de dar para todas as despesas, incluindo investimento e consumíveis (talvez por isso é que a Microsoft não vai para lá e vem pastar para a “rica” ignorância lusa). Sendo a questão de dinheiro, os professores, fazendo jus à sua profissão com alguma elevação, viram naturalmente a animosidade contra os “construtores de pirâmides” da burocracia estatal, chamando para o seu lado a população, que prefere que o Estado pague a alguém qualificado para dar atenção aos filhos, em vez de gastar o dinheiro em computadores e outras “contas de vidro” dos falsificadores no poleiro. Muito menos a população admitiria que se tirasse aos professores dos seus filhos para devastar o país construindo auto-estradas, aeroportos, TGVs, conventos de Mafra e outros elefantes brancos…

4. Eu sei que Estocolmo não tem uma estátua do rei Vasa no poleiro, como Lisboa tem a do terrorista Marquês de Pombal, e mostra em vez disso a prova da imbecilidade da arrogância do dito soberano, no ícone turístico que é o barco de guerra com o seu nome, tirado do fundo do fiorde nos anos sessenta do século XX, e que se afundara ao entrar na água, por causa das imposições despropositadas do dito rei iluminista na construção do mesmo… Não sei se há tempo para apear o marquês, mais o leão de pedra, e pôr lá talvez uma réplica do estrado de madeira, onde foram massacrados os Távoras às ordens daquele terrorista de Estado, para grande escândalo da Europa iluminista que tanto o admirava… Nem sei se com isso os pós-modernos “terroristas da economia” do poder político democrático aprenderiam a ter mais alguma consideração pelas pessoas realmente existentes…

5. Mas uma coisa é certa: existe vida para além da “economia de mercado”. E, na “nova simultaneidade histórica” criada irreversivelmente pela globalização, não será de mais, nesta “ocidental praia lusitana”, esperar dos professores que desmontem perante a sociedade os truques de ilusionismo da barraca dos malabaristas do poder…

Força!

Outsider

terça-feira, fevereiro 19, 2008

Primeiro-ministro dixit

Não pego nos outros assuntos mas apenas na avaliação dos professores.

Ele sabe e nós também sabemos para o que quer esta avaliação. Quer sobretudo atrasar as passagens na carreira. Para ir pagando pouco. Quer também efeitos estatísticos - aparentes reduções de abandono, aparentes êxitos nas aprendizagens, aparentes formações profissionais. Todas as medidas que vêm sendo tomadas são reveladoras.

Mas ilude, a ilusão (não posso dizer mentira - ai, ai, processo disciplinar) está na ordem do dia da governação.

Diz que quer premiar méritos e corresponder à vontade dos pais que exigem que a avaliação dos professores seja feita.

Esta avaliação não desencanta méritos. Estão lá as quotas , estão os atabalhoados "instrumentos" de medida, estão os designados avaliadores ad-hoc, está o fantasmagórico conselho científico a avisar disto mesmo. Aliás o senhor primeiro-ministro não consegue manter a pose e vai dizendo que a avaliação não precisa de ser perfeita. Reconhece implicitamente que é faz de conta e sabe do que fala. E não é ele engenheiro? E não é ele o autor daquelas lindas construções que nos foram ultimamente apresentadas? Ele explicou que a avaliação é imperfeita mas alguns (poucos) chegarão ao topo da carreira, pode algum chegar até a primeiro-ministro.

Os pais querem a avaliação individual dos professores, disse ele. Os pais querem é que os filhos aprendam o mundo, tenham prazer em estudar e querem que os professores contribuam para isso. Claro que quererão um melhor funcionamento das escolas mas para isso esta avaliação em nada contribui. Pelo contrário. Anula a possibilidade de trabalho colectivo que permitiria alterações positivas.

Face a isto intriga-me ouvir alguns professores apregoarem que querem a sua avaliação. Querem melhorar os "instrumentos", dilatar prazos, mas querem ser individualmente avaliados. Também eles estarão espalhando ilusões. Esqueceram depressa a iniquidade do recente concurso para professor titular!

Suponho que qualquer deles quer, e muito justamente, progredir na sua carreira. Para isso o melhor instrumento de medida, o mais fiável e menos injusto ainda é o tempo de serviço efectivamente prestado aos alunos.

Qualquer deles quererá as melhores condições para realizar o seu trabalho. Esta avaliação individual não lhes resolve isso. Por muito mérito que lhes venha a ser reconhecido (atenção às quotas) o seu trabalho no colectivo não terá desenvolvimento. Pelo contrário. Os meandros que estas notações geram são obstáculo a qualquer progresso.

Neste jogo de enganos não serão apenas os professores os triturados. Serão também os alunos, as suas famílias, a sociedade.

Mais um Manifesto

O descontentamento expressa-se. Aqui fica um manifesto que parte de professores de uma escola secundária de Vila Real. Furtei da "educação do meu umbigo" e divulgo também AQUI.

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Avaliações de desempenhos

Cá está mais um blog cheio de informação e desafio para a acção.
São professores revoltados.

Neste endereço.

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Petição on-line contra esta avaliação

Como por aqui tenho dito esta avaliação não pretende melhorar as aprendizagens dos alunos.

E, ao contrário do que diz o senhor primeiro-ministro, ministra e seus secretários, não tenho qualquer interesse em ver reconhecido o meu "mérito". Interessa-me sim descobrir os modos de melhorar o meu trabalho com os alunos e, para isso, esta avaliação em nada contribui.

Também ao contrário do que diz o senhor primeiro-ministro, nos anos noventa prestei prova pública, com júri externo, para passagem ao 8º escalão. Era a avaliação de então.

Não me incomodam as avaliações. Estou permanentemente a fazê-las na tentativa de ir actuando melhor, de retirar maior prazer do que faço e de que os alunos possam aprender mais.

Avaliações apalhaçadas fazem-me gastar tempo que posso usar em coisas mais interessantes.

Estou, portanto, contra esta dita avaliação de desempenho. Já assinei a petição.

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Mais gente que vai pensando

Há pessoas que não querem brincar à avaliação do desempenho dos professores.

Andam por aqui

e por aqui

e por aqui

Vou retirando esta informação de a educação do meu umbigo e do terrear.

Agradeço ao Paulo Guinote e ao José Matias Alves esta divulgação que vão fazendo.

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Autogrelhamento - 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7

Nome do avaliado - Setora

Categoria - Titular do seu nariz

Departamento curricular - Língua portuguesa (é apenas um departamento curricular e não a minha pátria e, com as confusões lançadas com decretos e contradecretos, já nem sei qual é o meu departamento)




1. Como avalia o cumprimento do serviço lectivo e dos seus objectivos individuais estabelecidos neste âmbito?

Avalio com um excelente.
Cá vou vindo todos os dias, com a pasta recheada de manuais, livros, dicionários, prontuários,gramáticas, fichas, cadernos, lápis e canetas e pen e caneta felpuda para o quadro novo. Trago a lancheira, uns maços de tabaco e, às vezes, o PC portatel. E trago sempre a cabeça entre as orelhas, uns oculitos para ver perto (que longe vejo sem ajuda), mãos, braços, pernas e tudo o mais que me faz falta neste domínio.
Excelente.

2. Como avalia o seu trabalho no âmbito da preparação e organização das actividades lectivas? Identifique sumariamente os recursos e instrumentos utilizados e os respectivos objectivos.

Avalio com um excelente.
Utilizo todos os recursos supracitados com grande mestria. Naturalmente que os manuais, os livros, os dicionários, os prontuários são para ir ao "baile das palavras", gramáticas, fichas, para ir corrigindo os passos, o recheio da cabeça traça a coreografia, as mãos, os braços e as pernas ajudam às poses, os ouvidos ouvem, os olhos vêem, o nariz procura oxigénio no ar saturado, na boca a língua, bem solta, manda o baile e, chegada a hora de repor energias, saboreia o conteúdo da lancheira e ajuda a manter os níveis da nicotina.

3. Como avalia a concretização das actividades lectivas e o cumprimento dos objectivos de aprendizagem dos seus alunos? Identifique as principais dificuldades e as estratégias que usou para as superar.

As actividades lectivas concretizam-se de modo excelente. Entramos e saímos vivos, apesar da falta de espaço, da falta de ar circulante, do amianto em cima das cabeças. E segue o baile.
Dos objectivos de aprendizagem dos meus alunos, pois eles que falem (eh, eh, é tão traiçoeira a língua portuguesa!). Dificuldades - tive que pôr os pés à parede e pedir socorro ao PGR e lá se conseguiram quadros novos. Às vezes doem-me as "cruzes" que me custa carregar com a tralha toda supracitada mas os tróleis e os alunos vão ajudando.

4. Como avalia a relação pedagógica que estabeleceu com os seus alunos e o conhecimento que tem de cada um deles?

Apesar de me terem trocado as voltas, de me terem tirado alunos de continuidade e de me terem dado trinta e três novos, para lá dos que já tinha, conhecemo-nos excelentemente. Chamam-me setora Eugénia, avó ou tia e bruxa, quando assumo esse papel. E riem-se, muito mais do que choram, à minha beira. E estou certa de que aprendem comigo - ainda há dias, quando passeava pelo subúrbio a fumar os meus cigarros de fim de almoço, uma aluna de onze anos correu para o meu lado e puxou ela também de um cigarro (falso, é verdade) para me acompanhar no gesto. Até esta aprendizagem definida pela ASAE é integralmente cumprida.

5. Como avalia o apoio que prestou à aprendizagem dos seus alunos?

Excelente, claro. E vou tendo sempre clientes nas aulas de reforço, salas de estudo... até nos pátios a avaliar os galhos das árvores que podem aguentar que se trepe, ou na rua a verificar da fragilidade das paragens de autocarro que não aguentam maus tratos...

6. Como avalia o trabalho que realizou no âmbito da avaliação das aprendizagens dos alunos? Identifique sumariamente os instrumentos que utilizou para essa avaliação e os respectivos objectivos.

Excelente. Estou sempre de olho neles e de ouvido alerta, memória de elefante e caderno mágico para anotações.
Consegui preencher todas as grelhas, produzir relatórios disto e daquilo, fazer ditados para as actas...
E, mais difícil ainda, consegui distribui-los por níveis dois, três, quatro e cinco...bruxaria mesmo, prática esotérica.


7. Identifique a evolução dos resultados escolares dos seus alunos. Avalie o seu contributo para a sua melhoria e o cumprimento dos objectivos individuais estabelecidos neste âmbito.

Este ponto preencherei apenas no final do ano mas, atendendo a que a minha escola fica no final dos rankings, posso ir dizendo com alguma alegria que já todos conseguem ler, a maioria já não troca quando escreve f/v, g/gu, c/qu, m/b, ai/ei, lh/nh... falam, alguns até na língua dos pês, escrevem frases completas e reconhecem pontuações/entoações, afirmam e também negam com nunca, nem, sem... Enfim, depois se verá.

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Valha-me São Gilles de la Tourette

Tive que arranjar novo santo protector antes que se me desencabreste a língua! E eu sou do Porto, carago, carago não, que eu não digo carago. São Tourette me ajude!

É preciso reduzir drasticamente os gastos com a educação, deve ter dito o sr. primeiro-ministro. Educação, saúde... é cortar a eito. Bens inúteis, nos dias que correm. Aeroporto e TGV é o que está a dar para alavancar a economia. Igualmente inúteis mas alavancam...

Enquanto os pais trabalham ou passam as horas nos centros de (des)emprego ou a cursar novas oportunidades, é preciso guardar os catraios por aí, nem que seja em capelas mortuárias. Toca a aprender para morto. Fica mais barato que manter escolas abertas. Fechem-se escolas, escolas.

E entre capelas mortuárias e escolas de concentração a tarefa seguinte é a de reduzir os professores em número e à sua insignificância.

E continuando com o que terão sido as doutas instruções do sr. primeiro-ministro - primeiro ocupe-os com tarefas inúteis, atafulhe-os de papeis, desoriente-os e divida-os com titularidades. Depois afinfe-lhes com uma avaliação, assim um processo faz de conta que ninguém, nem mesmo a senhora ministra, precisa de entender. É só para entreter e empancar. E enquanto arranca com o processo atire-lhes p'ra cima com um modelo novo de gestão para as escolas, um director, pais, forças vivas das autarquias, o meu gato e, vá lá, o Bobi e o Tareco. O plano é perfeito - vai ver uns professores aterrados a correr a pedir a reforma antecipada com uns cortes valentes, outros sem norte fixados nas grelhas, nos instrumentos, nas medidas, nas escalas, completamente perdidos a chorar pelas mães e a correr p'ró psiquiatra. Sobrarão uns quantos a leste, isto é, bem orientados, ufanos a segurar a cauda do rei que vai nu.

E, sobretudo, não os deixe fumar! Morrerão de reunião, confusão, indigestão de instrução, sobreocupação, grelhação, quotação, mas de cancro no pulmão, não!

Estas as palavras do senhor a que a santa da ministra vem dando cumprimento.

Valha-me São Gilles de la Tourette.