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M. Eugénia Prata Pinheiro

sexta-feira, março 28, 2008

O peso dos pesares

Peço desculpa pelo texto comprido mas há pesares que não se diluem facilmente.

Imaginemos uma situação neste meu mundo outro.

Uma turma de 27 alunos, todos com mais de doze anos, que acabam de chegar ao 5º ano. Entre eles uns três repetentes. As primeiras cenas são felinianas. Uma jovem, com ar arrapazado, entra saltando de mesa em mesa. Uns quantos continuam a briga feroz do pátio dentro da sala. Há os que vão dando conta que lhes tiraram isto ou aquilo e barafustam pelos “roubos”. Ninguém parece ouvir ninguém.

A sala atribuída era nos barracões de madeira, tinha um vibrante cheiro a esgoto mas era grande e tinha lavavo com água e grande balcão ao fundo, o que veio a permitir boa exploração.

Professores da pesada – 6 deles na casa dos cinquenta (uma no seu penúltimo ano de serviço); destes, 4 estão disponíveis para “pegar o bicho de caras”. Uma delas trabalha com estes alunos em três disciplinas e deita mãos à obra. Começa pela jovem saltadora – explica-lhe que só a ideia de que lhe pode falhar um pé e que se pode partir toda por entre as mesas e cadeiras a deixa a ela à beira de um ataque cardíaco, que já não tem idade… desculpe lá setora, nunca mais faço – e não fez. Uma caixa com 30 esferográficas, 30 lápis, 30 borrachas e uns quantos apara-lápis permitiu proibir as queixas dos roubos.

Mau cheiro, má paisagem, (con)tactos violentos, gritarias, uns dentes a menos – toca a ir pelos sentidos. E reclamar para resolver o esgoto intruso foi o primeiro passo decidido em conjunto porque todos ali mereciam condições para trabalhar. Com o esgoto mais ou menos arranjado no final da semana, a aula dos cheiros (descoberta de especiarias e aplicações) foi magnífica ainda que no final a pimenta tivesse voado para os narizes de alguns. O tacto a seguir, que permitia o jogo. Objectos variados (prego, parafuso, busca-polos, corta-unhas, luva, cálice...) metidos num saco que os alunos um a um, vendados, iam retirando e apalpavam para descobrir, dizer e depois escrever no quadro enquanto os outros registavam nos cadernos, o que eram, para que serviam, que materiais os constituíam. E outras encenações – em vez da briga séria a briga simulada e sem toque, o organizar de equipas por ordem alfabética em cima de banco estreito o que obriga a interajuda e a abraço no final, a cerimónia de oferta dos postes de cimento da escola aos mais “enérgicos” para que esmurrassem ali. Foram começando a ficar entusiasmados. A música com cantoria e escrita das letras também animou. Ficaram com uma para “hino” – trago a fisga no bolso… O ver implicou imagens e desenhos e, maravilha das maravilhas, o desenho com imagens sobrepostas que permitem a simulação do movimento. O sensaborão exemplo da professora – a menina que levanta os braços e as tranças – foi radicalmente ultrapassado pelo basquetebolista que encesta, a bola que entra na baliza, o chapéu que voa…

Encurtando por agora. A professora respondeu a chamada do Centro Nacional de Cultura e a turma (e duas outras da escola) entrou num projecto virado exactamente para os sentidos e a cidade. E lá foram no autocarro cheio de tecnologia para a cidade, usufruindo gostosamente da passeata. E foi vê-los obedecendo ao espaço indicado à beira do rio a tomar o lanche ou tranquilamente espalhados pelo jardim de São Pedro de Alcântara a desenhar um recorte do gradeamento, o castelo, os telhados com clarabóias, a árvore…

E a coisa ia andando – a professora de inglês, a mais velha, dava a instrução de trabalho para treino intensivo nas aulas de estudo acompanhado e as notas boas começaram a aparecer. Os professores pegaram naquela disciplina porque era a nova, a mais diferente. E então já brigavam pelas notas nas outras disciplinas. Muitas folhas de verbos inteirinhos preencheram em casa, orgulhosos da fila de registo no caderno da professora!

Foram afinando.

Em Maio chegou à escola convite para que aquelas turmas que tinham participado no projecto do Centro Nacional de Cultura participassem com outras de outras escolas numa recepção na Presidência da República. Reunião de interessados e imediata informação de que o 5º X não iria. Essa agora, claro que tinham de ir, estavam bem, ficariam melhor. E lá entregaram os papéis para as autorizações dos pais. E a turma elaborou o texto de representação da escola.

Um incidente menor com a abertura barulhenta de um cacifo na aula de matemática que nem chegou para perturbar a aula porque obedeceram à professora quando suspendeu a tentativa e mandou sentar, serviu para voltar a sugestão de impedimento da saída. Uma professora da sala ao lado, que estava em parceria, resolveu ver o que se passava e o aluno que lhe abriu a porta perguntou o que é que vem aqui fazer. Grande grosseria (na verdade ainda não estavam exatamente meninos de colégio suíço). Foi apresentar queixa pelo mau trato. Como a maioria do conselho de turma entendeu que os alunos deviam participar na recepção veio, em cima dos feriados de Junho, um despacho da presidente do CE a proibir. Reclamação junto da presidente e da DREL, novo conselho de turma, renovação da decisão de ida, despachos a proibir, recurso hierárquico na DREL e apelo à Secretaria de Estado que através da DREL ordena e reordena a ida e … não foram. Ficaram no passeio, bem arranjados, a ver partir os autocarros com as outras turmas, dois colegas arbitrariamente selecionados e uma professora indignada, obrigada a ir apenas com aqueles dois. Reza a história que o Presidente da República pegou no texto da turma para abrir a sua intervenção na recepção.

Numa mecânica simples, um processo disciplinar posto à professora que apresentara o recurso hierárquico levou ao imediato arquivamento do recurso. O processo disciplinar, embora se tivesse chegado à falsificação de documentos e actas, lá foi também arquivado.

Em Setembro, os dois primeiros alunos que foram à escola ver horários e turmas eram do 5ºX e correram a abraçar a professora que no ano anterior trabalhara com eles em três disciplinas e que avistaram no pátio.

Esta, embora tivesse requerido a turma, foi impedida de continuar o trabalho. As outras professoras, incomodadas com o que se passara, abandonaram a escola.

Alguns alunos também abandonaram a escola logo no primeiro período do 6º ano.

As escolas são sítios violentos e cometem-se crimes. Quem diretamente os comete e quem ajuda fica impune. São bons burocratas. Preferiam os alunos embalsamados. Mas também abrem blogues sobre ensino e educação. Haja liberdade de expressão.


PS. Não consegui tirar o p da recepção. Lá chegarei.




quinta-feira, março 27, 2008

Que família?

Há por aí muita tese circulando sobre a educação das crianças.

Tenho para dizer que em Portugal se tratam mal as crianças. E falo das crianças muito pequenas. Andei há uns três anos, no Verão, pelos países nórdicos. Andava toda a gente na rua para aproveitar o sol. Os relvados dos jardins estavam ocupados pelas famílias. Todas as gerações. Não ouvi uma criança chorar, não vi nenhuma a fazer birra. Também não vi nenhum adulto a berrar com elas, a tratá-las de modo agressivo. Vi as bolas, os papagaios, os triciclos e os pais e as mães a interagir nas brincadeiras. Vi proteções nos ouvidos das crianças pequenas quando em espaços ruidosos. Vi partirem para fins de semana alargados no campo, para casas sem energia eléctrica que favoreciam o contacto com a vida natural, distanciada do assédio das tecnologias. E andavam a pé ou de bicicleta. Vi os pais separados a tratarem com grande normalidade e correção o ocupar-se das crianças no tempo de trabalho do outro.

Admito que posso ter visto sobretudo o que me agradava, admito que pode não ser tão idílico.

Contra o que costumo e por razões de saúde passei quinze dias na praia, no Algarve, no Verão passado. Fiquei assustada. Todos os portugueses berravam com as crianças. Todos davam ordens a torto e a direito de modo agressivo. Famílias de tipo variado mas tratamento das crianças idêntico. Senta-te/levanta-te, veste/despe, calça/descalça, come/não comas, bebe/ não bebas, tira/não tires, põe/não ponhas, sai/não saias, fica/não fiques, ... tudo com vozes estridentemente incómodas, sempre desagradáveis. Brincadeiras conjuntas vi poucas e às vezes com ar de grande frete por parte dos progenitores. Curiosamente as famílias estrangeiras que por ali andavam seguiam o padrão nórdico mas não eram tomadas para exemplo.

O pior é que fiquei com a ideia que estas famílias locais entendiam que estavam a educar.
Ouvirão depois por parte dos professores a estafada frase em casa não os educam e retorquirão que sim, que não deixam, que fazem e que acontecem mas que os meninos estão a ficar rebeldes, desobedientes.
Irão para o psicólogo, a conselho da educadora de infância ou da professora do 1ºciclo porque são crianças nervosas, hiperativas... Pudera!


quarta-feira, março 26, 2008

Que escola?

Uma escola que se impõe pela força, uma escola autoritária hoje não resiste, desmorona-se em tempo de internet e telemóveis/câmaras. E se é esta a escola que se quer, quer-se uma ruína. Pode fechar-se já que causará menos transtorno.

Se queremos escola, há que aprender a torná-la espaço amplo de comunicação que permita aos jovens aprender a liberdade e a responsabilidade neste tempo de tão rápida mudança no mundo à volta. Não vale chamar a polícia, apelar ao Procurador, esperar resultados de um qualquer tribunal. E não vale esperar que os pais resolvam problemas com os quais também lidam com dificuldade.

Vale esperar dos professores a capacidade de reflexão e alteração de métodos e processos? Capacidade que não se desenvolverá com o preenchimento individual de grelhas. Capacidade que não se desenvolverá se o professor estiver sobreocupado com tarefas burocráticas sem tempo para organizar, também em interação com os pares, o seu trabalho com os alunos e a comunicação com os pais. Capacidade que não se desenvolverá se não quisermos reconhecer a alteração de circunstâncias. Um professor que há mais de dez anos está fora da escola, ao voltar, não pode ser colocado diante de uma turma. Está fora daquela realidade, não tem capacidade de resposta aos problemas. Tem de lhe ser dado tempo de adaptação. Capacidade que não se desenvolve com os caprichos da tutela que, viciando o sentido da tarefa, provocam natural desnorte.

Nenhum aluno dos tempos que correm pode ser tratado como objecto passivo. Nenhuma cassete tem hoje possibilidade de uso. E nenhuma turma pode ser constituída como um cada vez maior rebanho. Adolescentes telemobilizados, internéticos, assediados pelo espetáculo, espetáculo do frívolo, da violência gratuita, das cidades que não são para velhos e que os mais velhos foram construindo, assombrados pelas catástrofes naturais e artificiais, pelas imagens das fomes e das abundâncias desmedidas, não são passíveis de morno pastoreio. E são uma multidão, uma multidão de passados, de experiências mais ou menos desagregadoras, mais ou menos construtoras. Se não for possível de parte a parte interrogar, defender opiniões, desenvolver sentido crítico e capacidade cidadã de intervir, preservar privacidades, estaremos a caminhar para o desastre.

Não vale tornar os professores em meros gestores de conflitos, primos de polícias talvez até fardados, supostos guardadores de supostos rebanhos enormes com espaços e tempos agressivos e esperar que os pais em casa ensinem. Se a escola não for o lugar de aprender, aprender em grupo reduzido, com ligações fortes, com atenção aos indivíduos, respeito por cada um e por todos, podemos desistir já. Escusamos de fazer de conta que há escola e far-se-á poupança radical.













sexta-feira, março 21, 2008

Divulgando quem vai pensando - parte II

Qual o papel dos pais neste processo?

Os pais e encarregados de educação podem ser uma presença de peso significativo. Não tenho dúvidas que há escolas em que os pais desempenham papel importante na criação de ambientes favoráveis, assim como não tenho dúvidas que escolas existem onde se verificam ou a total ausência ou efeitos nefastos da presença dos pais.

Compete às escolas criarem condições para que os pais surjam como parceiros, com os mesmos interesses dos professores que é melhorar os resultados dos alunos.

(Não me parece que a colagem e subserviência do presidente da Confap ajude muito, mas ignoremo-lo. Não é carta do meu baralho.)

Acredito que os pais têm que se tornar personagens activos neste filme, nem que seja daqui a duas décadas.

Eles vão ser necessários para a contratualização de objectivos.

Este trabalho deve, em minha opinião, ser feito pelas escolas independentemente de se estar a discutir a avaliação do desempenho dos professores.

Sem discussão que toda esta tarefa deve ser feita dentro do horário do professor, dentro das 35 horas e lembrando que a função principal do professor é ensinar (não se tenha medo da palavra), lutar por objectivos inclusivos de excelência para todos os alunos e não gastar o tempo com papéis ou gastar 50% do tempo da aula preocupado com as questões da disciplina e da ordem ou de relatórios que ninguém lê e dos quais se pedem contas, etc.

Em todo este processo é por demais evidente que a imagem do professor foi distorcida, retorcida, mal-formada. Alguém teve esse propósito, houve conspiração. Se não forem os professores a conquistarem os encarregados de educação através de sinais pedagógicos de participação, não esperemos que seja a imprensa a dizer-lhes que os professores têm razão.

Concluindo, objectivos colectivos sim. Objectivos individuais de pormenor não. O único objectivo de cada professor deve ser, à sua maneira com a sua identidade integrar-se no esforço colectivo, preocupando com os objectivos da escola.

A avaliação deste esforço colectivo pode, e talvez deva, externalizar-se procurando aspectos que não correram bem e que carecem de reformulação, introdução de outras boas práticas, ajudando na explosão formativa da avaliação. Muitas vezes, as coisas vistas de fora vêem-se melhor. A formiga na curva de uma estrada não dá conta que está numa curva.

Objectivos na formação contínua

Relativamente a outros objectivos individuais, uma referência à formação contínua.

Se bem me lembro, no anterior modelo de avaliação, estava definido que um dos itens a abordar no relatório de reflexão crítica deveria respeitar às necessidades de formação.

Decorre de uma auto-avaliação séria a indicação de pontos fortes e pontos fracos. Estes deveriam ser canalizados para um programa de formação para alimentar os CFAE’s. A humildade de reconhecermos as nossas fraquezas face à montanha que queremos subir, só engrandece.

Não deixaria contudo os planos de formação apenas ocupados com estas necessidades vindas do seu exterior. Tópicos externos de formação devem ser introduzidos no sentido de enriquecer as escolas e de criar plataformas mínimas e aceitáveis comuns a todas as escolas. Imagine-se uma escola onde nenhum professor conhece a existência de laboratórios de matemática. Não sentirão necessidade de formação na área. Quem não conhece a corrente eléctrica no seu sentido prático, nunca sentirá a falta do micro-ondas nem pedirá que lhe ensinem como se liga o ar condicionado.

A formação contínua deve responder assim a dois objectivos. Por um lado, melhorar o desenvolvimento de competências que já se possuem, embora de modo deficiente ou ineficaz, por outro, a introdução de novas disponibilidades educacionais.

Com quadros docentes estabilizados na maior parte das escolas deste país, haverá escolas ricas em massa crítica e outras menos ricas. Se a formação for deixada por conta apenas das próprias escolas, o que provavelmente vai ocorrer é o alargamento destas diferenças entre ricas e pobres.


quarta-feira, março 19, 2008

Divulgando quem vai pensando - parte I

Recebi por mail estas reflexões de um professor.


Tempo para fixar objectivos individuais

Sou coordenador de departamento (dos antigos que constam do RI e não dos 4 mega), numa escola que está quase na estaca zero em relação à avaliação de desempenho

Em matéria de objectivos individuais e em particular aos referidos nas alíneas a) e b) do art. 9º do DR 2/2008, no cronograma aprovado em CP para ser apresentado superiormente, vai indicada a data de meados de Outubro de 2008, como o tempo provável para que eles sejam definidos com algum rigor e alguma fundamentação. Pelo menos, quanto à melhoria dos resultados esperados.

Nos passagens que faço com frequência por diferentes blogues ainda não encontrei nenhuma escola a apontar uma data tão afastada no tempo. (Será que a ME aceita?)

Procurarei explicar qual o fundamento desta data.

A escola onde estou é uma secundária daquelas que só tem mesmo cursos secundários. Por isso, todos os alunos do 10º ano são novos para todos os professores, Nenhum professor sensato fará projecções de melhorias apoiadas apenas nas classificações atribuídas pelas escolas básicas. Impõe-se um trabalho de diagnóstico apoiado em provas a estudar ainda durante este ano a a aplicar em Setembro que poderão ser cruzadas com os resultados nacionais nos exames de Língua Portuguesa e Matemática e com as classificações do 9º ano. Este trabalho deverá culminar com um posicionamento de cada aluno de modo a identificar o potencial de desenvolvimento em cada uma das disciplinas que vai frequentar. Este diagnóstico suportará o projecto curricular de turma, que é outra prática de que esta escola não tem história. Trabalho de diagnóstico para 11º ano e para 12º ano decorrerão na mesma altura, naturalmente, com uma configuração diferente

Este processo vai exigir imenso trabalho por parte dos professores e não será simples.

Se este esforço for feito no mês de Setembro, já terá valido para alguma coisa toda esta trapalhada,

Por exemplo, se medirmos a evolução tendo como ponto de partida o primeiro período e de chegada o terceiro período, facilmente alcançaremos uma classificação espectacular. Comece-se por atribuir a todos os alunos classificações bastante abaixo do que valem e, no final, atribua-se a classificação merecida. Como só conta a classificação do último período, o aluno não fica prejudicado e o professor sai-se muito bem, pois todos ou quase todos os alunos terão progredido. Esta dica foi-me dada por Maria L Rodrigues na entrevista a Judite de Sousa, nas vésperas da manifestação ao comparar uma turma de oitos com uma turma de dezoitos.

Objectivos individuais ou objectivos colectivos?

Tenho visto propostas de declaração de intenções acerca de resultados escolares e abandono em termos individuais, como se, quais bonecreiros, tudo dependesse da nossa maneira de manejar os cordéis.

Acho pouco sustentável compromissos individuais do professor como não reprovar ninguém, (nalgumas disciplinas nem se conhecem reprovações), ou em colocar 50% dos alunos acima de 16, mais de 80% acima de 14, etc. Ou dizer que me vou esforçar por limitar as perdas (abandono) a 5% (menos de dois alunos) etc.

Os resultados escolares e a questão do abandono e eventualmente outros são assumidamente objectivos colectivos, de comunidade educativa, de escola, de departamento, de grupo disciplinar. Não dependem da acção individual, mas dependem do todo do qual faço parte. Neste caso, 1+1 não é igual a 2. Há que somar 1 com 1 e juntar todas as sinergias criadas. Se num país há duas empresas de produção de garfos, a minha e a do Joaquim, se o Joaquim comprar a minha ele ficará com mais do que duas empresas. (Admitamos que a autoridade da concorrência deixa comprar)

O facto de os objectivos serem colectivos, não se podem esconder responsabilidades individuais que são sinalizadas em função da contribuição de cada professor para objectivo comum.

Não me parece que a soma dos objectivos individuais façam obrigatoriamente um bom objectivo colectivo. O todo é mais do que a soma das partes.

O que se pede então?

Objectivos colectivos bem alicerçados onde se projecta o esforço individual de cada professor e de mais alguém.

(continua)

terça-feira, março 18, 2008

Que bom irmos conhecendo!

Declaração de voto de vencido



CONSELHO DAS ESCOLAS
PROCESSO DE AVALIAÇÃO DO PESSOAL DOCENTE
Declaração de Voto de vencido

Votei contra o parecer aprovado pelo Conselho das Escolas (CE) relativo ao processo de avaliação de desempenho do pessoal docente, em reunião extraordinária em 12/03/2008, pelas seguintes razões:

Quem está no terreno constata diariamente da insatisfação e perturbação que todo o processo de avaliação do pessoal docente tem causado nas escolas, recentemente visíveis nos desenvolvimentos político-laborais que são de todos conhecidos.

A deliberação tomada pelo CE não descortina uma solução que apazigúe este clima de descontentamento, pelo que vejo com preocupação o futuro, nomeadamente quanto ao normal funcionamento da escola e ao seu prestígio social.

Sobre o processo de avaliação do pessoal docente, o Conselho das Escolas pronunciou-se em de 21/01/2008, tendo aprovado e dirigido ao Governo um conjunto de Recomendações que, pela sua actualidade e pertinência, se sublinham:

i. O Ministério da Educação deve diferir o processo de avaliação de desempenho do pessoal docente, entretanto iniciado, para momento posterior ao da publicação de todos os documentos, regras e normas legais previstos no Decreto-Regulamentar 2/2008 de 10 de Janeiro.

ii. Cumprida que esteja a publicação das normas referidas no ponto anterior, deve o Ministério da Educação conceder às escolas um período de tempo mínimo e necessário à adequação e actualização dos seus instrumentos de regulação internos, designadamente o Projecto Educativo, o Regulamento Interno e o Plano Anual de Actividades.

iii. O Ministério da Educação deve suspender, até que sejam corrigidas, as informações que estão a ser veiculadas no fórum criado pela DGRHE sobre esta matéria e que se reputam de erróneas.

iv. Mais uma vez, este Conselho reitera junto do Ministério da Educação, o entendimento de que é manifestamente inexequível a aplicação do novo modelo de avaliação do pessoal docente, nos termos, prazos e procedimentos com que está actualmente a ser aplicado.

Ou seja, este Conselho já se pronunciou, inequivocamente, pela inexequibilidade do processo de avaliação, tal como ele se apresentava.

Cumprida que foi a sua função e por razões que o ultrapassam, constata-se que as Recomendações então emitidas não foram consideradas em toda a sua extensão pelo Ministério da Educação. Nem tinham que o ser, diga-se em abono da verdade.

Decorrido este lapso de tempo, foi por demais evidente o crescimento progressivo de um forte descontentamento nas escolas e o surgimento de claros constrangimentos organizacionais, no que tange, nomeadamente, à complexidade do sistema de avaliação, à operacionalização das fichas de avaliação, à qualidade e pertinência dos itens de avaliação, à definição de indicadores de escola, aos prazos de aplicação do modelo, à utilização como objectivos individuais de avaliação dos resultados escolares dos alunos, à definição e competência dos avaliadores e, ultimamente, a todo o quadro de contestação legal de que tem sido alvo o processo.

Tal como à data afirmámos, um processo de avaliação de desempenho do pessoal docente de tal importância e dimensão exige da parte de todos os interessados e intervenientes um cabal conhecimento do mesmo, de modo a ser compreendido e interiorizado por todos os actores, sob pena de a sua eficácia ficar irremediavelmente comprometida, dele resultarem situações jurídico-legais dificilmente sanáveis e sérios e previsíveis prejuízos no normal funcionamento das escolas.

Acresce que os últimos desenvolvimentos vieram mostrar, também, que os próprios destinatários do processo de avaliação não lhe reconhecem mérito.

Com base nestes considerandos, entendo que o CE deveria ter aconselhado a Sra. Ministra da Educação a:

1. Suspender o presente processo de avaliação dos professores, criando assim as condições necessárias à promoção de um modelo de avaliação capaz de suprir as principais debilidades detectadas até ao momento e reunir a consensualidade necessária à sua aplicação.

2. Contabilizar integral e retroactivamente, a título excepcional, o tempo de serviço prestado até à entrada em vigor do modelo de avaliação referido no número anterior para efeitos de progressão na carreira, nos termos da avaliação efectuada.

3. Exigir aos professores contratados, a título excepcional, uma avaliação nos termos do último modelo de avaliação aplicável.

Caparide, 12 de Março de 2008

José Eduardo Lemos, Conselheiro do Distrito do Porto

José Alfredo Mendes, Conselheiro do Distrito de Braga


Homenagem


Morreu Maximiano Rodrigues, o senhor das gravatas a quem apelei, enquanto Inspector Geral da Administração Interna, numa situação que envolveu alunos da minha escola. Descrevi os acontecimentos no texto Pano para mangas - escola segura em 9 de Janeiro de 2007.

Actuou com celeridade e bem. Deu voz àqueles rapazes maltratados. Fê-los crescer como pessoas.

Poder-se-á dizer que fez o que lhe competia. Pois fez o que lhe competia mas há tantos que se esquecem do que lhes compete...

Recordo-o, portanto.


segunda-feira, março 17, 2008

Para ir caminhando

Princípios a não perder de vista que furtei do terrear


E se defendessemos alguns princípios sensatos?

Como por exemplo,
i) ninguém poderá exercer as funções de avaliador sem formação (sem conhecimento específico) para essa actividade complexa.
ii) ninguém pode definir objectivos individuais sem que o projecto educativo enuncie de forma clara os objectivos (e as metas) organizacionais.
iii) ninguém pode definir objectivos individuais sem que o Departamento enuncie os objectivos departamentais.
iv) ninguém pode definir os seus indicadores de medida sem que a organização o faça tendo em conta os anos, os cursos, as fileiras de estudo...
v) ninguém pode aceitar grelhas de observação e de registo que espartilhem e desconjuntem a actividade profissional.
vi) ninguém pode aceitar instrumentos de registo que lhe devolvam uma imagem desfocada, desfasada da realidade.
vii) ninguém deveria aceitar que os instrumentos de registo deixassem de fora dimensões da sua actividade educativa.
viii) ninguém deveria aceitar uma avaliação ao serviço do policiamento, da conformidade, da subserviência

e deveriam reclamar
a) a redução e flexibilização do número de critérios;
b) a redução dos níveis/descritores/indicadores de medida (porque esta ilusão eficientista/objectivista é pura perda de energia e fonte permanente de disputa interpretativa)
c) a flexibilização do nº de observação de aulas.

ou seja
afirmar que a avaliação tem de ser um meio flexível, económico, ajustado às realidades, alinhado com os fins proclamados, acessório. E não inquinar toda a prática educativa.

E furtei um comentário (copio na íntegra porque é bom ter amigos). Cruzando os textos aí está boa matéria para reflexão.

Meu muito caro José Alves

Já pensava convidar-te para almoçar, cuidando que havias desistido de escrever...
Neste momento há questões que deveriam nortear a discussão nas escolas: 1.º Queremos a avaliação? Não há razões para não o querer, pelo que a segunda questão está associada à 2.ª Que tipo de avaliação queremos? As opções resumem-se à interna e à externa. Porque não somos uma empresa (para tristeza de muitos) a avaliação que faz sentido é a interna (denominada interpares). Daqui resulta uma 3.ª questão: que tipo de avaliação interna pretendemos? Eu creio que faz todo o sentido que seja uma avaliação da qual decorra uma melhoria das práticas educativas o que significa, grosso modo, que avaliador e avaliados devem realizar um trabalho colaborativo, quer na planificação, quer no desenho dos planos de aula, quer na elaboração de materiais de suporte às práticas lectivas. Assim, o avaliador vai tomando conta do grau de envolvimento, dos contributos produzidos, ... e o avaiado vai reunindo o feed back essencial à melhoria do seu desempenho.
Consequentemente, não faz sentido a aplicação de grelhas ou de outros instrumentos de notação que não tenham sido objecto de experimentação.
Consequentemente, não faz sentido que o processo seja despoletado de imediato em todas as escolas;
Faz todo o sentido avançar por etapas. Avançar onde for viável, com acompanhamento e monitorização, procedendo ao alargamento da experiência num prazo que permita que todas as escolas realizem os procedimentos elementares à boa aplicação das metodologias de avaliação.

Acho que o melhor indicador que a senhora ministra deveria analisar com cuidado é este: os milhares de professores que poderiam ter sido seus aliados neste processo de alteração de práticas estão contra ela.

Como vês escrevo ao correr da pena só porque fiquei com a convicção, errada já se vê, de que tinhas perdido o fôlego.

Um destes dias volto ao assunto, com maior clareza e disponobilidade de tempo. Amanha começam as avaliações.

NÃO É EXTRAORDINÁRIO QUE A SENHORA MINISTRA AFIRME QUE QUEM AVALIA ALUNOS ESTÁ PREPARADO PARA AVALIAR PROFESSORES?
Recorda: «Todas as flores são rosas; a minha tia é rosa, logo, a minha tia é flor» Quem diria que pela mão da ministra eu iria recordar os silogismos do saudoso 7.º ano de escolaridade...
Abraço amigo.

domingo, março 16, 2008

O polvo

Ver AQUI


Bracinhos do polvo.
Que quererá o senhor Fernando Horta, presidente desta escola de Seia?
Um louvor da senhora ministra?
Ser o próximo director da escola?
Ser ministro ou primeiro ministro?

Há quanto tempo não dá aulas?
Com tão frenética actividade de fabrico de grelhas o que ele não quer certamente é mobilizar os professores para melhorarem as suas práticas, para a alegria do ensinar/aprender.

Os burocratas instalados deixam-me com urticária.
Valha-me São Gilles de la Tourette.

Dou todo o apoio àqueles colegas. Vão de férias, que bem precisam!

O senhor presidente que preencha as grelhazinhas. Que bem classificado ficará!

sábado, março 15, 2008

Há mais departamentos vivos e coordenadores que coordenam

Resolução do Departamento de Humanidades da Escola Secundária de Barcelos 12 de Março de 2008

O Departamento de Humanidades, na sua reunião ordinária de 12 de Março, após discussão referente ao processo de avaliação de Desempenho dos Professores, redigiu o seguinte documento, aprovado por unanimidade:

- Atendendo a que as recomendações sobre a elaboração e aprovação, pelos Conselhos Pedagógicos, de instrumentos de registo normalizados, previstos no Decreto de Avaliação do Desempenho, emanadas pela Senhora Presidente do Conselho Científico de Avaliação dos Professores, se encontram, neste momento, suspensos por providência cautelar intentada, a 8.Fevereiro.2008, pelo Sindicato dos Professores do Norte,

- Considerando que, até ao momento, não há notícia de provimento a eventuais recursos interpostos pelo ME,

- Desconhecendo qualquer documento legal que legitime a constituição de apenas quatro departamentos curriculares para efeitos de avaliação,

- Divergindo profundamente dos critérios que regulamentaram o primeiro concurso de acesso a professor titular, contemplando essencialmente os cargos ocupados nos últimos sete anos, que deixaram de fora professores com um vasto currículo e trabalho produzido na escola ao longo de muitos anos de carreira,

- Tendo em conta que alguns professores deste departamento estão na estranha situação de uma liderança bicéfala, ao pertencerem, simultaneamente, a este departamento e a um outro para efeitos de avaliação, cujo representante legítimo não tem assento legal no Conselho Pedagógico,

- Afirmando que o processo de avaliação, pelo excesso de procedimentos burocráticos, pelo momento em que foi instituído, pelo não conhecimento atempado de todos os requisitos legais e procedimentais indispensáveis para o concretizar, tornam a avaliação inexequível,

- Acentuando a inexistência de preparação adequada dos professores avaliadores para garantirem uma avaliação justa, objectiva e tecnicamente rigorosa,

- Sublinhando que aos professores avaliadores é pedido que avaliem, em muitos casos, dezenas de professores, sem que para o efeito haja disponibilidade de horário ou concessão de horas em número suficiente,

Consideram ainda

- Que o DR 2/2008 regulamenta um Estatuto da Carreira Docente no qual os professores não se revêem, ao fragmentar a carreira única, de um modo artificial, em duas carreiras,

- Que não há mérito nem excelência suficiente que permita ao docente chegar ao topo da carreira, quando ela está praticamente vedada a dois terços dos professores, traduzindo a perspectiva de futuro profissional numa ilusão,

- Que a exigência de 50% da formação na área disciplinar, pela ausência de oferta no Centros de Formação, obriga os professores a pagarem do seu bolso essa formação,

- Que o referido Estatuto pune qualquer excelência, bem como a dignidade das pessoas, por faltas a funerais de familiares, idas a tribunal, reuniões escolares dos filhos e várias outras situações,

- Que pune os professores quando os alunos ou os pais dos alunos decidem, bem ou mal, que chegou a hora de abandonar a escola,

- Que transforma a avaliação numa competição excessiva pelas quotas e depois exige que os docentes sejam avaliados pelo trabalho cooperativo,

- Que avalia os professores pelos resultados dos alunos, criando uma situação de perversidade e de uma previsível mentira no sucesso educativo num espaço, que é a escola, que deve ser um espaço de verdade, quando

a) é de senso comum o conhecimento que os resultados dos alunos avaliam os alunos, não os professores,

b) é impossível aferir com rigor e justiça o contributo do professor na classificação final do aluno,

c) é arbitrário e injusto fazer essa aferição pelos resultados dos anos anteriores ou pelo progresso dos alunos, responsabilizando o professor por aquilo de que não pode ser responsabilizado,

d) não o é menos, fazendo-o pelo resultados da avaliação externa, dada a discrepância de aproveitamento que há entre os diversos alunos,

e) é perverso porque pode e irá, seguramente, criar situações de classificações inflacionadas,

f) é ilegal porque o docente não pode ser responsabilizado individualmente pela classificação, caso assim fosse desrespeitaria o Despacho Normativo 1 de 2005 que diz: “Artigo 31 - A decisão quanto à avaliação final do aluno é da competência: b) Do conselho de turma sob proposta do(s) professor(es) de cada disciplinar/área curricular não disciplinar, nos 2ºe 3º ciclos.”; bem como o Despacho Normativo 10/2004, de 2 de Março, que regula a avaliação no ensino secundário, “capítulo II, nº 3.5 – A decisão final quanto à classificação a atribuir é da competência do Conselho de Turma, que, para o efeito, aprecia a proposta apresentada por cada professor, as informações justificativas da mesma e a situação global do aluno.”

Delibera

Não participar na realização dos instrumentos de registos normalizados por entender, pelo que foi dito antes, não estarem reunidas as condições mínimas para a execução de uma avaliação justa e dignificadora do ofício docente,

Exigir que o Conselho Pedagógico pondere a suspensão de todo o processo de avaliação até estarem reunidas essas condições,

Propor, aos órgãos competentes da escola, a convocação de uma reunião geral de professores para discutir esta questão,

Arrogar-se o direito de divulgar publicamente esta resolução para que outras escolas e as suas instâncias decisórias assumam também a responsabilidade de tomar em suas mãos um processo que, como diz povo, se “nasce torto tarde ou nunca se endireita”.

Em nome dos professores que integram este Departamento,

A coordenadora,

Fátima Inácio Gomes.




A necessária inscrição na APEDE

Passem palavra. É importante!
Ficha de inscrição


Caro(a) colega,

A APEDE, Associação de Professores e Educadores em Defesa do Ensino, é cada vez mais uma realidade. Estamos, finalmente, em condições de dar início ao processo de inscrição de sócios. Com esta mensagem, enviamos em anexo um modelo de ficha de inscrição. Deverás imprimi-la, recortar pelo tracejado da tesourinha e enviá-la devidamente preenchida para o seguinte endereço:


APEDE, 9
2504-909 Caldas da Rainha


A outra metade servirá, naturalmente, para outro colega teu. Pedimos também a tua colaboração no sentido de divulgar o mais possível esta ficha de inscrição. Imprime-a, fotocopia-a, envia-a para o maior número de e-mails de que te lembres. É muito importante que tenhamos bastantes sócios, pois as iniciativas que estamos a pensar lançar são dispendiosas, nomeadamente as que se prendem com a parte judicial. Sem o dinheiro das quotas, não iremos tão longe como pretendemos.
Gostaríamos de ter avançado mais depressa, mas, como podes calcular, estas últimas semanas foram vertiginosas. Temos tido a comunicação social a contactar-nos quase todos os dias; temos mantido ligações com outros movimentos; estamos a procurar criar um grupo de reflexão de elevada qualidade no intuito de construirmos as nossas próprias propostas alternativas ao Estatuto e ao modelo de avaliação, e de as apresentarmos publicamente.
Nestes últimos dias assistimos a alguns sinais preocupantes. Não sabemos que tipo de negociação os sindicatos estão a efectuar com o Ministério. Receamos que as organizações sindicais estejam dispostas a ceder no essencial em troco de umas migalhas que irão manter de pé todo o edifício legislativo que o Ministério nos quer impor. Se isso acontecer, é fundamental termos uma associação forte, pois ela poderá ser um lugar de resistência coerente contra as políticas ministeriais. Para isso, precisamos absolutamente de ti e de todos os que consigas trazer para o nosso movimento.
Saudações,

Mário Machaqueiro

A nota de imprensa da APEDE

Publiquei aqui a nota de imprensa da APEDE, associação recentemente formada de professores.

Chama a atenção para os problemas maiores que se nos colocam. Sobre a avaliação, enuncia o único princípio aceitável -o seu carácter formativo.

A avaliação/classificação que o ME propõe e vai cozinhando com avanços e recuos e apoios mais ou menos "ingénuos" por parte dos negociadores e comentadores anula qualquer possibilidade de que venha a servir a formação dos professores e o desenvolvimento do trabalho nas escolas.

Avaliemos as escolas/agrupamentos nas suas circunstâncias, nos seus colectivos. Façamos destas avaliações abertas e trabalhosas o motor de arranque para alterações positivas.

A farsa que nos é proposta pretende dizer à opinião pública que é a salvação para o que corre mal nas escolas. Mais uma das "redentoras reformas" que a par das outras (concurso para titulares, estatuto do aluno, lei sobre o ensino especial...) tudo piorará.

Recusemos de todo participar na farsa.

Tristeza imensa

Mais um jovem morreu. Morreu na sua escola no Montijo. Paragem cardiorespiratória após esforço e resposta tardia do socorro especializado.

Mortes contra-natura.

Compartilho a tristeza com a família e a escola.

Ramiro Marques - para reflectir

"Para compreender o que nos está a acontecer. Após três décadas de democracia, estamos a assistir a uma reconfiguração do poder político. Essa reconfiguração assenta em dois pilares: o actual PS e a ala cavaquista do PSD.

Incapazes de segurarem este arremedo de estado social, essas duas facções do poder tecnoburocrático uniram-se para procederem à maior transferência de riqueza de que há memória nas últimas três décadas.

Essa transferência de riqueza é absolutamente crucial para a manutenção dos privilégios dos oligarcas. Os professores, por serem 140000 e por estarem sistematicamente divididos enquanto grupo profissional, foram os escolhidos para a a realização desse processo de transferência de riqueza.

Dentro de meia dúzia de anos, dois terços dos professores não passarão do meio da carreira e estarão condenados a trabalharem até aos 65 anos (ou mais) com um salário inferior ao de um sargento.

Para que essa transferência de riqueza se realize sem sobressaltos para os oligarcas, é necessário que o poder político limite ou anule a liberdade de expressão nos espaços e organismos públicos.

A escola pública tem sido um espaço de eleição para o exercício das liberdades.

Com ameaças de processos disciplinares, exacerbação dos conflitos entre professores titulares e não titulares e uma política oficiosa de guardar segredo sobre tudo o que se passa nas escolas, o poder político foi criando as condições ideológicas e repressivas para que essa transferência de riqueza se continue a fazer de forma doce.

O objectivo é fazer parecer essa transferência como natural, de modo a que as próprias vítimas do processo de pauperização e proletarização a aceitem como inevitável.

Se lerem A Política de Aristóteles, está lá tudo o que é preciso saber sobre o processo de perversão da democracia e a sua tranformação em oligarquia.

Em Portugal, esse processo está em marcha.

Para ler o meu e-book sobre a Política de Aristóteles, clique no link:http://www.ramiromarques.pt.vu/Vá ao menu, clique em "Ética e Pedagogia" e depois "Os meus E-Books", em "Ensaios Críticos sobre a Política de Aristóteles"

sexta-feira, março 14, 2008

APEDE

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Nota de Imprensa

Tendo analisado a posição do Ministério da Educação, anunciada em conferência de imprensa realizada após as reuniões com a Plataforma Sindical e com o Conselho de Escolas, a comissão instaladora da APEDE - Associação de Professores e Educadores em Defesa do Ensino concluiu que:

  • A anunciada “posição flexível” do ministério face à questão da avaliação dos professores não altera em nada as razões que motivaram o desencadear da Luta e do Luto em defesa do Ensino, uma vez que o ministério continua a declarar que nas negociações não está em causa nem o modelo de avaliação, nem a sua suspensão;
  • Os professores, independentemente da sua filiação sindical e/ou partidária, devem manter nas suas escolas uma atitude de resistência às medidas que vêm sendo impostas pelo ministério, nomeadamente através da persuasão junto dos órgãos de gestão, no sentido de não cometerem actos violadores das Leis da República;
  • As reivindicações dos professores não se esgotam na suspensão do DR 2/2008 e sua substituição por um modelo em que a avaliação dos docentes tenha um carácter formativo e de melhoria das práticas docentes, mas abrangem também a necessidade de revisão do ECD, a suspensão do DL 3/2008 sobre o Ensino Especial, a revisão dos aspectos mais gravosos da Lei 3/2008 sobre o Estatuto do Aluno e a não promulgação do novo decreto sobre a gestão.

Sobre cada um destes documentos a APEDE apresentará, em tempo oportuno, propostas alternativas que terão por base uma reflexão sobre os modelos em vigor e as melhorias a introduzir em cada um deles. A APEDE considera que mais do que mudar constantemente a legislação sobre a educação, importa introduzir as correcções que permitam aprofundar e melhorar a que já existe e que tem permitido as avaliações positivas que estão reflectidas nos relatórios da IGE.

Lisboa, 13 de Março de 2008

A Comissão Instaladora

quarta-feira, março 12, 2008

O luto do governo

É preciso dar ao governo um período de nojo, até para conferir em que matérias está disposto – por uma vez – a negociar. Enquanto isso, vamos conferindo o comportamento das margens. Marcelo, na homilia de Domingo, foi elaborando o sermão de modo a que os laicos fossem entendendo uns pingos da religião. Vitorino, qual padeira do Rato, foi falando da qualidade da sêmea e, de tal modo foi ouvido na Pedreira que o secretário de estado do empreendimento, já veio declarar que não, que não senhor, que não recuava e justificou-se vagamente com a ameaça velada do sacrifício dos professores contratados, da progressão e da legalidade penhorada. Suspender, não e não! O Vitalino [uma variante vital, mas no activo], já declarou que o que vai acontecer já estava previsto: a flexibilidade, o ritmo de cada escola; nós é que estávamos a tirar a cera dos ouvidos e não ouvimos suas eminências reverendíssimas. A toda esta gente que não recua, porque isso faria mal ao governo, vamos, calmamente, explicar que é 100.000 mil vezes preferível que faça mal ao governo em vez de hipotecar o país num dos seus fundamentos: o ensino; a educação.

Senhora Ministra, embora os seus decretos e despachos estejam num eduquês suficientemente cifrado e encriptado (enquistado!), não contribua, com a candura dos temerários, para que se nos cole uma imagem de iliteracia, desleixo e incompetência que de todo rejeitamos. Poupe o nosso dinheiro e poupe-nos ao espectáculo da construção de um documento de sete páginas para nos ensinar a ler a propaganda de um diploma da avaliação. Sabemos muito bem o que a move: quer resultados; quer torturar a estatística até que ela confesse que nós, sim nós, somos os responsáveis pelo abandono e pelo insucesso escolar; quer afunilar a carreira docente; quer dividir artificialmente [e chama-lhe mérito] os professores em titulares e outros [que nunca mais sairão da posição que ocupam]; quer poupar dinheiro e inventou este ardil da avaliação-que-nunca-se-fez! [Para virar todos contra todos]. Mas uma socióloga, ainda que ministra, devia saber que a montante da escola, e até a jusante, existem variáveis que explicam o porquê. Mudem de política; defendam o estado social; reactivem a solidariedade; corrijam os impostos; façam um esforço de contenção nas vossas sumptuárias despesas supérfluas e verão que não é necessário fazer dos professores os bodes expiatórios da vossa canhestra inaptidão para o bem comum.

Neste período de luto gostaríamos que os governantes, que hão-de governar bem menos tempo do que eu serei professor, considerassem, ao menos por uma vez, que, quando vissem, por perto, um microfone, se escusassem a falar dos professores, do ensino ou da educação, por algumas muito boas e simples razões:

(i) nada melhora no país se se continuar a instigar, na população menos esclarecida sobre a orgânica do ensino, o recorrente ódio aos professores, mesmo se precedido do dispensável corolário da “compreensão” e das mãos erigidas ao céu;

(ii) Embora o pm tenha corrigido a semântica do seu discurso, ainda falta acrescentar, como trabalho de casa, que-os-professores-sempre foram-avaliados.

(iii) Nas “perguntas e respostas”, que o ME mandou distribuir sobre a avaliação, pelos néscios, estão por lá incorrecções e desencontros com a verdade dos factos. Desde logo a resposta à segunda pergunta é incorrecta. Integrei uma das equipas de avaliação de professores (e conheço a legislação), posso afirmar que alguns professores não progrediram, muito menos automaticamente, e que a ausência de regulamentação de outra menção, além de suficiente (que de nada servia), deve-se exclusivamente à tutela, a que de resto o pê-èsse não é alheio;

Fique a ministra em casa ou na rua, ande a banhos pela Curia ou pela Escola da Ponte, pode tomar nota que, ainda que não recue, nós estamos dispostos a avançar;

Fundamentalmente por uma questão de brio e dignidade;

Essencialmente porque não estamos dispostos a consentir e a aturar aquilo que o pm, ministra e secs potenciam: o ódio e a violenta verbalização (ai Leiria!) de Rangel e Ferreira, que um qualquer porta-voz do ME, principalmente A. Santos Silva, essa incontornável figura de antifascista, revelada em Chaves, devia igualmente combater;

Claro que “não há jantares grátis” e neste molho que o “Correio” transporta, lá está o Sousa Tavares, o director do Expresso, os padrinhos e o Madrinha, tanto faz; o JN, pelo bisturi do seu director e adjunto, também desacertam o passo na leitaria e, entre moinhos e fantasmas, não querem ver; preferem ficar perto do telefone desesperando pelo dia do pagamento de tão prestimosos serviços. São incontáveis os assessores, “spin-doctores” e quejandos que, à mesa do orçamento, congeminam estes trabalhos menores (ou maiores), tanto faz.

A senhora e os senhores do ministério bem como os companheiros do governo bem podiam repesar o andamento e, num laivo de discernimento, tão raro, por essas bandas, reflectir sobre o seguinte enunciado – mesmo antes de se conhecer qualquer resultado desta contestadíssima avaliação, a consequência é um verdadeiro desastre: conseguiram espalhar lama para cima de todos, sem excepção! Conseguiram que muitos dos melhores profissionais, de calculadora em punho, andem incansavelmente a fazer contas para a aposentação. Esse contributo era desnecessário, porque o prejuízo (e o défice) vai direitinho para a escola pública e para os que mais nos movem: os alunos. Os professores que dedicaram uma vida inteira à nobre missão de ensinar, gostariam de abandonar a escola, onde foram felizes e se sentiram realizados, sem mágoa e sem pública humilhação; é um direito que lhes assiste e ninguém deveria perturbar (muito menos a tutela), esse pequeno nada, que faz toda a diferença.

Podem estar certos, numa democracia representativa, não se pode hoje apelar à participação do cidadão e, logo a seguir, demonizá-la. A saúde democrática, fundamentalmente quando uma maioria absoluta se tresmalha no reiterado autoritarismo e no cercear rente dos direitos, liberdades e garantias, defende-se na rua. Se continuar a ser preciso, ajudaremos, com dignidade, a reconduzir este pê-èsse à democracia.

Querem-nos na rua, vão ter-nos na rua!

As contas que mais se fazem é quantos seremos na próxima. Continuem, até a população que com tanto esmero propagandista, têm virado contra nós, vos há-de também abandonar.

Está escrito!

Jerónimo Costa, professor do E. Secundário.

Nota:
Com pouco tempo para a escrita ando por aí a furtar. Apanhei este texto do blog do Francisco Trindade. Espero que nem ele nem o Jerónimo Costa fiquem aborrecidos por aqui terem vindo parar.

terça-feira, março 11, 2008

Francisco José Viegas in "Origem das espécies"

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|| Escolas, e justiça pelas próprias mãos.


Ontem visitei uma escola no concelho de Sintra. Era a “semana da leitura” numa escola cuja biblioteca está permanentemente aberta das 08h00 às 22h00 por devoção dos seus professores. Os de várias disciplinas, de Português a Educação Física e Geometria – cada um faz uma escala para garantir um dos objectivos internos da própria escola: mantê-la aberta nesse período. Havia alunos a ajudar no bar e no refeitório, porque não há pessoal suficiente. Alunos, funcionários administrativos e professores promoveram uma maratona de leitura. A ministra da educação pede a estes professores para “trabalharem mais um pouco”, coisa que eles já fazem há bastante tempo; ouvi alunos portugueses, africanos, indianos, do Leste europeu, a falar com orgulho da sua escola. Falando com eles, um a um, percebe-se entusiasmo em várias coisas. Acho natural, são professores. Percebo pela blogosfera uma grande vontade de fazer “justiça pelas próprias mãos” aos professores, mas vejo poucas pessoas com disponibilidade para ouvi-los nas escolas – não nas ruas, onde as parvoíces são sempre amplificadas, mas nas escolas, nos corredores da escolas, quando fazem turnos de limpeza, quando atendem alunos em dificuldade ou fazem escalas para Português como língua estrangeira para rapazes ucranianos ou indianos que não entendem sequer o alfabeto ocidental, ou quando tratam dos problemas pessoais de alguns deles (ou porque não tomam o pequeno-almoço em casa, ou têm dificuldade em aceitar um namoro desfeito, ou andam na droga). Os professores, estes professores, são um dos últimos elos (percebe-se isso tão bem) entre os miúdos e miúdas desorientados e um mundo que é geralmente ingrato. São avaliados todos os dias pelo ambiente escolar, pelo ruído da rua, pelas horas de atendimento, pelas reuniões que o ME não suspeita. Muitas vezes, as famílias não sabem o ano que os miúdos frequentam; não sabem quantas faltas eles deram; não sabem se os filhos estão de ressaca. Os professores sabem.

Essa vontade de disciplinar os professores, eu percebo-a. Durante trinta anos, uma série de funcionários que abundou “pelos corredores do ME” (gosto da expressão, eu sei), decretou e planeou coisas inenarráveis para as escolas – sem as visitar, sem as conhecer, ignorando que essa geringonça de “planeamento”, “objectivos”, princípios pedagógicos modernos, funcionava muito bem nas suas cabecinhas mas que era necessário testar tudo nas escolas, que não podem ser laboratórios para experiências engenhosas. Muitos professores foram desmotivados ao longo destes anos. Ou porque os processos disciplinares eram longos depois de uma agressão (o ME ignora que esses processos devem ser rápidos e decisivos), ou porque ninguém sabe como a TLEBS é aplicada. Ninguém, que eu tivesse ouvido nas escolas onde vou, discordou da necessidade avaliação. Mas eu agradecia que se avaliasse também o trabalho do ME durante estes últimos anos; que se avaliasse o quanto o ME trabalhou para dificultar a vida nas escolas, com medidas insensatas, inadequadas e incompreensíveis; que se avalie a qualidade dos programas de ensino e a sua linguagem imprópria e incompreensível. Sou e sempre fui dos primeiros a pedir avaliação aos professores, porque é uma exigência democrática e que pode ajudar a melhorar a qualidade do ensino. Mas é fácil escolher os professores como bodes expiatórios de toda a desgraça “do sistema”, como se tivessem sido eles a deixar apodrecer as escolas ou a introduzir reformas sobre reformas, a maior parte delas abandonadas uns anos depois. Por isso, quando pedirem “justiça”, e “disciplina” e “rigor” (coisas elementares), não se esqueçam de visitar as escolas, de ver como é a vida dos professores, porque creio que se confunde em demasia aquilo que é “o mundo dos professores” com a imagem pública de um sistema desorganizado, oportunista e feito para produzir estatísticas boas para a propaganda.

domingo, março 09, 2008

António Barreto - mais um para ler

António Barreto conclui assim o seu artigo de hoje no Público:


(...) O sistema de avaliação que a ministra pretende impor e que os sindicatos recusam é apenas um dos temas de contestação. Mas é o que tem surgido com mais evidência. A coberto de uma virtude indiscutível, a ideia de avaliação não é recusada por ninguém. É de bom-tom dizer que se é "a favor da avaliação, mas contra esta avaliação". Para todos, ou quase, é uma espécie de santo-e-senha de honorabilidade. Acontece que não é. A palavra, o conceito, o mito e o tique nasceram há vinte ou trinta anos. Em Portugal e na Europa. Criado por burocratas e tecnocratas, os defensores da avaliação acreditam que um sistema destes promove a boa educação, melhora o ensino, castiga os maus profissionais, detecta os talentos, permite corrigir erros e combate o desperdício. Na verdade, o sistema e a sua ideologia, que infestaram o Ministério da Educação, são próprios de uma educação centralizada, integrada e uniforme. Na impossibilidade humana de "gerir" milhares de escolas e centenas de milhares de professores, os esclarecidos especialistas construíram uma teoria "científica" e um método "objectivo" com a finalidade de medir desempenhos e apurar a qualidade dos profissionais. Daí os patéticos esquemas, gráficos e grelhas com os quais se pretende humilhar, controlar, medir, poupar recursos, ocupar os professores e tornar a vida de toda a gente num inferno. O que na verdade se passa é que este sistema implica a abdicação de princípios fundamentais, como sejam os da autoridade da direcção, a responsabilidade do director e dos dirigentes e a autonomia da escola. O sistema de avaliação é a dissolução da autoridade e da hierarquia, assim como um obstáculo ao trabalho em equipa e ao diálogo entre profissionais. É um programa de desumanização da escola e da profissão docente. Este sistema burocrático é incapaz de avaliar a qualidade das pessoas e de perceber o que os professores realmente fazem. É uma cortina de fumo atrás da qual se escondem burocratas e covardes, incapazes de criticar e elogiar cara a cara um profissional. Este sistema, copiado de outros países e recriado nas alfurjas do ministério, é mais um sinal de crise da educação. Mais do que dos sindicatos ou dos professores, a ministra Maria de Lurdes Rodrigues é vítima da 5 de Outubro.

Nota
Obrigada, António Barreto.
Talvez eu comece a ficar menos mal vista quando digo não à avaliação.

São mais de cem mil

Furtei a foto ao Francisco Trindade.
Fica para depois tratar o que guardei com os meus sentidos.



sábado, março 08, 2008

EXCELENTE

8.03.2008, Vasco Pulido Valente (Público)

Hoje, 70.000 professores vêm a Lisboa protestar contra o Governo e a ministra da "Educação". Não posso simpatizar mais com eles. Mas não me parece que tenham percebido bem o fundo da questão: nem eles, nem a generalidade do público.

Toda a gente parte do princípio que os professores devem ser avaliados; mesmo os próprios professores, que só criticam o método proposto pela 5 de Outubro. Ninguém ainda disse que os professores, pura e simplesmente, não devem ser avaliados, nem que a avaliação demonstra a (incurável?) deformidade do sistema de ensino. Em cada manifestação aparecem professores furiosos proclamando que não temem a avaliação. Acredito que sim. Infelizmente, não se trata disso.

Uma avaliação pressupõe critérios: parece que neste caso à volta de catorze (e pressupõe avaliadores, muitos dos quais sem qualquer competência científica ou pedagógica ou interesses de uma total irrelevância para a matéria em juízo). Os critérios medem, peço desculpa pelo truísmo, o que é mensurável como, por exemplo, a assiduidade ou notas de uma exactidão discutível, como perfeitamente sabe quem alguma vez deu notas. Não medem nem a "moral", nem o "ambiente", nem os valores da escola ou a contribuição de cada professor para a sobrevivência e a força dessa "moral", desse "ambiente" e desses valores. Numa palavra, não medem a qualidade, de que depende, em última análise, o sucesso ou o fracasso do acto de ensinar. Criam uma trapalhada burocrática que esteriliza e que massacra e acaba sempre por promover a mediocridade, o oportunismo e a rotina. A sra. Thatcher ia matando assim a universidade inglesa.

Os professores não precisam de uma vigilância vexatória e nociva por "avaliações". Precisam de um ethos, que estabeleça uma noção clara e unívoca de excelência. Se o ensino superior for de facto excelente (e não o travesti que por aí vegeta) e se tiver inteira liberdade de seleccionar alunos (como agora não tem), os professores ficarão com um objectivo, o de preparar as crianças para o ensino superior, que os distinguirá entre si, sem regras de espécie alguma; e que tornará o seu trabalho pessoalmente mais compensador, interessante e útil. Desde o princípio que o Estado democrático não compreendeu esta evidência. Começou as reformas por baixo e não por cima. Aturou sem vergonha os mercenários que exploravam a universidade. E de repente quer que os professores paguem a conta do desastre. Não é admissível.


Nota:
Obrigada V.P.V.
Eu também ando a dizer que os professores não devem ser avaliados, que a avaliação dos professores não traz vantagem à escola. Traz prejuízo.
Mas fico mal vista por defender isto.
É de muitas outras coisas que a escola precisa e não dessa entretenga inútil. Se nos nossos colectivos analisássemos o que vamos fazendo e fôssemos descobrindo o como melhorar, seria ocupação bem mais conveniente.

sexta-feira, março 07, 2008

O silêncio

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Desfile em silêncio até à Baixa. Palavras de ordem a partir daí.


Esta é a proposta que circula por blogues e sms e que apoio.




Chamem a polícia oh, oh, oh... ou de como se criam novas oportunidades para o regresso dos polícias às escolas.

Lá andam de novo os polícias atarefados em diversas zonas do país inquirindo sobre a participação dos professores duma escola e da outra e da outra... na manifestação do dia 8 em Lisboa.

Intimidades ou intimidações?

Tal intimidade dispensa-se. A intimidação ignora-se.

Ainda assim valha-me são Gilles de la Tourette!

Empenhos e desempenhos

Recebi por mail

Hoje foi dia de me deparar com uma situação insólita na Escola Secundária de (omito o nome). Aprovadas as fichas de registo pelo Conselho Pedagógico, soube que estavam disponíveis na reprografia para todos os professores que as solicitassem. Assim fiz e foi aqui que me deparei com uma situação insólita.

Diz-me a funcionária muito educadamente " Tem de pagar as fotocópias, srª professora." E em jeito de desculpa "São as ordens que eu tenho, srª professora."
Confesso que pensei estar numa escola que tem a veleidade de me querer reduzir a pessoa acéfala, coisa que eu não sou.
"Não pago." respondi eu "Vou resolver o problema à direcção, mas garanto-lhe que não pago os instrumentos que vão condicionar a minha avaliação interna enquanto funcionária nesta escola."
E toca de avançar escadas acima, com a papelada na mão, que é mais do que muita, constituída por Ficha Auxiliar da Avaliação da Planificação, Instrumento de Registo de Avaliação de Desempenho dos Professores - Observação de Aula, Instrumento de Registo de Avaliação de Desempenho dos Professores - Análise Documental, Ficha de Registo de Avaliação Efectuada pelo Director. Treze folhas no total.
Lá chegada repeti "Não pago. Não pago as fotocópias de documentos internos desta escola, que eu tenho de analisar pois vão condicionar toda a minha avaliação." E acrescentei "Sinto-me insultada. Mais, sinto-me gozada. E não pago não porque não tenha dinheiro para pagar. Não pago por uma questão de princípio. Nem que fosse um cêntimo. Recusaria da mesma forma o pagamento. Tenho os meus impostos em dia que sempre cumpri escrupulosamente. Só me faltaria agora ter de pagar para ser avaliada pelo Ministério da Educação! Só me faltaria agora pagar a minha própria avaliação! Podem fazer uma lista negra, a começar por mim, daqueles que desobedecem às ordens superiores. NÃO PAGO. E podem até colocar-me um processo em tribunal. NÃO PAGO! SINTO-ME INSULTADA, ACHINCALHADA, GOZADA. E NÃO PAGO."
E lá desci com as fotocópias na mão, sem as pagar, claro está, nervosa, alterada e irritada com a situação mesmo mesmo bem para ir leccionar uma aula (...)
No intervalo seguinte quando entrei na sala de professores a primeira coisa que soube pelos meus colegas foi que o problema estava resolvido e as fotocópias seriam gratuitas para todos os professores.
Cheguei a casa nervosa e com arritmias cardíacas. O clima está de cortar à faca e à mínima coisa poderá ficar completamente fora de controlo. Tive de tomar um calmante, logo eu que nunca tomo nada destas coisas! Deitei-me a dormir. Exausta.
Alguém me tira deste filme?

quinta-feira, março 06, 2008

Há Departamentos e Departamentos...

Os professores do Departamento de Línguas e Literaturas, da Escola Secundária D. Maria II, Braga, na sua reunião ordinária de hoje, 5 de Março, abordaram, inevitavelmente, o modelo de avaliação que nos querem impor. Após demorada, participada e viva discussão, os respectivos professores decidiram redigir e aprovar o documento que, de seguida, transcrevo na íntegra:

. Atendendo a que, sem fundamento válido, se fracturou a carreira docente em duas: professores titulares e não titulares;

. Atendendo a que essa fractura se operou com base num processo arbitrário, gerando injustiças inqualificáveis;

.Atendendo a que os parâmetros desse concurso se circunscreveram, aleatória e arbitrariamente, aos últimos sete anos, deitando insanemente para o caixote do lixo carreiras e dedicações de vidas inteiras entregues à profissão;

. Atendendo a que, por via de tão injusto concurso, não se pode admitir, sem ofensa para todos, que seguiram em frente só os melhores, e que ficaram para trás os que eram piores;

. Atendendo a que esse concurso terá repercussões na aplicação do assim chamado modelo de avaliação, já que, em princípio, quem por essa via acedeu a titular será passível de ser nomeado coordenador e, logo, avaliador;

. Atendendo a que, por essa via, pode muito bem acontecer que o avaliador seja menos qualificado que o avaliado;

. Atendendo a que o modelo de avaliação é tecnicamente medíocre;

. Atendendo a que o modelo de avaliação é leviano nos prazos que impõe;

. Atendendo a que o modelo de avaliação contém critérios subjectivos;

. Atendendo a que há divergências jurídicas sérias relativas à legitimidade deste modelo;

. Atendendo a que o Conselho Executivo e os Coordenadores de Departamento foram democraticamente eleitos com base nas funções então definidas para esses órgãos;

. Atendendo a que este processo, a continuar, terá que ser desenvolvido pelos anunciados futuros Conselhos de Escola, Director escolhido por esse Conselho, e pelos Coordenadores nomeados;

. Nós, professores do Departamento de Línguas, da Escola Secundária D. Maria II, não reconhecemos legitimidade democrática a nenhum dos órgãos da escola para darem continuidade a um processo que extravasa as funções para as quais foram eleitos;

. Mais consideram que:

. Por uma questão de dignidade e de solidariedade profissional, devem, esses órgãos, suspender, de imediato, toda e qualquer iniciativa relacionada com a avaliação;

. Caso desejem e insistam na aplicação de tão arbitrário modelo, devem assumir a quebra do vínculo democrático e de confiança entre eles próprios e quem os elegeu, tirando daí as consequências moralmente exigidas.

Notas:

1 – Dos 22 professores presentes, 21 votaram favoravelmente e 1 votou ccontra:

2 – Para além de darem conhecimento imediato deste documento aos órgãos, ainda democráticos, da escola, os professores decidiram dá-lo a conhecer a todos os colegas da escola;

3 – Decidiram também dar ao documento a maior divulgação pública possível, e enviá-lo directamente para outras escolas e colegas de outras escolas;

4 – Pede-se a todos os professores que nos ajudem na divulgação deste documento, e que o tomem como incentivo e apoio para outras tomadas de posição;

5 – Este documento ficou, obviamente, registado em acta, para que a senhora ministra não continue a dizer que nas escolas está tudo calmo, e que só se protesta na rua;

6 – A introdução e as notas são da minha exclusiva responsabilidade;

7 – Tomo a liberdade de agradecer com prazer aos professores da Escola Secundária D. Maria II, Braga, e principalmente às mulheres, as mais aguerridas, pelas posições firmes que têm assumido, e por rejeitarem qualquer outro lugar que não seja a linha da frente da luta pela dignidade docente. É um orgulho estar entre vós.

António Mota
Escola Secundária D. Maria II, Braga

Professores do 1º Ciclo Indignad@s

Mail enviado por uma professora


Professores do 1º Ciclo Indignad@s (vulgo "Professor@s Primári@s")
Somos Professor@s contentes com a Profissão que escolhemos e com o trabalho que desenvolvemos, mas ultimamente falta-nos o tempo e começamos a trabalhar "em cima do joelho", perdid@s em papéis e reuniões, apoios ao estudo e afins, desgastados e até angustiados com tantas incertezas.
Recusamos a continuidade destes horários de Professor do 1º Ciclo. Há pelo menos 3 dias por semana na escola das 9:00 às 17:30. Imagine-se o desgaste ao fim de um dia com 20, 17 ou 25 crianças de seis anos? E como preparamos o trabalho? E como podemos assim inovar pedagogias e didácticas e garantir o sucesso educativo básico dos alunos? Para além disto, ainda mais uma "avaliação faz de conta", cozinhada à pressa por todos e nenhuns, feita de papéis e grelhas que só irá roubar mais tempo às necessárias funções que devemos cumprir? Números, números...
Queremos trabalhar das 9:00 às 15:30, um directo com pausa para intervalo da manhã e almoço. Queremos ainda reuniões semanais e mensais com outros docentes e outros parceiros da comunidade educativa para avaliar e reflectir sobre os projectos educativos em curso (sim, porque há parceiros no meio envolvente à escola que no meio de tanta burocracia e tragédia se perdem - Encarregados de Educação e Famílias, Associações de Bairro, Projectos Comunitários, Lares e Centros de Dia, Bibliotecas e Museus, Assistentes Sociais, ...). Pessoas, pessoas...
Só com este tempo poderemos efectivamente diferenciar o trabalho dos alunos, adequar os materiais e as actividades a cada um e à turma, organizar experiências e seus protocolos, seleccionar livros de leitura e outros, construir fichas e ficheiros, preparar actividades inerentes às Expressões Artísticas (jogos dramáticos, teatros, jogos musicais, rítmicos, pinturas, colagens,etc), seleccionar e construir jogos e problemas matemáticos, acompanhar e avaliar diariamente os trabalhos feitos e o desenvolvimento de competências, construir livros de textos, jornais e sítios da net com produções dos alunos, frequentar acções de formação, escrever e publicar trabalhos e artigos, etc,etc,etc. O 1º Ciclo é multidisciplinar mas não pode ser uma manta de retalhos feitos por manuais e fichas fotocopiadas.
Não podemos mais trabalhar com os presentes horários lectivos e a presente instabilidade. As regras de tudo o que é inerente à nossa profissão, aos nossos direitos, aos nossos deveres, não podem ser acrescentadas, alteradas, suprimidas consoante sopram os ventos. Agora é concurso, agora não é. Agora há avaliação qualitativa dos alunos, agora é quantitativa. Agora não há necessidades educativas especiais, agora todas as crianças " especiais" vão para as escolas "normais". Agora há continuidade pedagógica, agora já não há. Agora ao sair da Universidade é-se professor, agora já não.
Queremos tempo para desenvolver projectos educativos de qualidade...

quarta-feira, março 05, 2008

Penalva do Castelo

Depois de em 18 de Junho ter escrito aqui o texto Valha-me santo Alzheimer, indignada que estava com o que acontecera à infeliz professora de Cacia gravemente doente e obrigada a manter-se ao serviço na escola, não quero deixar passar o dia de hoje sem um BRAVO, um VIVA ao presidente da Câmara de Penalva do Castelo.

Ignoro quem seja o senhor, o seu partido, nem o nome retive, mas lá que é pessoa inteira, sem dúvida. Face à doença grave de um funcionário a quem a junta "médica" deu alta, considerando-o apto para o trabalho, mandou tranquilamente o funcionário descansar para casa com os seus ordenados garantidos.

VIVA pois. E que o seu exemplo sirva.


Professor Santana Castilho in Público

A revolta dos professores

05.03.2008, Santana Castilho

Os docentes não suportam mais a indignidade com que têm sido tratados

Há evidências incontestáveis: as manifestações dos professores um pouco por todo o país (Viseu, Guarda, Braga, Coimbra, Castelo Branco, Portalegre, Setúbal e Faro), que culminarão com a anunciada marcha de 8 de Março, expressam a revolta dos docentes, que não suportam mais a indignidade com que têm sido tratados.


Sinistramente, primeiro-ministro, ministra da Educação e secretários de Estado começaram por incendiar a sociedade contra os professores. Entre outras, propalaram falsas ideias (que nesta coluna desmenti, com recurso a estatísticas da UE), segundo as quais os professores teriam fartos privilégios, ganhando mais que os colegas europeus e trabalhando menos que eles, apesar de serem (assim insinuaram) os responsáveis principais pelos elevados níveis de abandono e de insucesso escolar que caracterizam o sistema de ensino. Depois, seguiram-se as previsíveis medidas "moralizadoras" das quais recordamos três:

1. O horário de trabalho dos professores foi drasticamente aumentado. A incontinência legislativa deste governo inundou as escolas de decretos, portarias, despachos e circulares, que tornaram a vida dos professores num inferno de cumprimentos burocráticos inúteis. As alterações das reduções de tempo de serviço em função da idade e da própria idade de reforma, como é sabido, tornaram mais penoso o exercício profissional em contextos de maior debilidade física. Escravizaram-se muitos professores, obrigando-os a permanecer nas escolas sem condições nem motivo (a farsa e a desumanidade de muitas "aulas de substituição") e vergaram-se muitos outros a exercícios profissionais próprios de auxiliares ou de amanuenses. Quem resista fisicamente e queira cumprir, pode ter que trabalhar hoje mais de 50 horas por semana. Como contrapartida, reduziram administrativamente os salários e aprestam-se agora a "depurar" o sistema, recambiando para o quadro dos disponíveis, com as desumanas consequências inerentes, os professores doentes, que consagraram vidas inteiras à Escola e ao ensino.

2. A fractura da carreira única em duas, com a emergência dos professores titulares, foi servida por um processo escabroso. É impossível descrever ao cidadão comum o quadro de injustiças cometidas. A insanidade que queimou carreiras e dedicações de vidas à aleatoriedade dos últimos sete anos, provocou chagas incicatrizáveis no tecido social das escolas. É simplesmente insuportável que um estalar de dedos ministeriais ponha à frente dos melhores muitos dos menos preparados, dos menos formados, dos menos experientes, dos menos competentes.

3. O modelo de avaliação do desempenho que se quer impor é insensato e irresponsável: como compreender que se seja penalizado por parir ou ficar viúvo? É tecnicamente medíocre: a formulação de descritores, por exemplo, entrou em roda-viva de apressados improvisos (vide o escabroso caso debatido na Assembleia da República), quando a validade de qualquer deles passaria obrigatoriamente por exercícios de pré-testagem, que não estão previstos. É leviano nos prazos que impõe: é factualmente impossível cumprir um digrama de execução daqueles em coincidência com o período de maior concentração de tarefas escolares. É fantasioso numa sujeição a emanações teóricas e científicas de órgãos que, previstos, nunca foram constituídos: onde está o decantado conselho científico? Está eivado de critérios ridiculamente subjectivos: como se mede a relação de um professor com a comunidade?

Num debate televisivo recente, a ministra ripostou a uma interveniente que não interessavam as pessoas mas sim as políticas. Enganou-se. São as pessoas que definem as políticas. E quando na defesa dessas políticas permitem que se crie o ambiente que hoje se vive, transformando as suas relações com a sociedade que governam num caso continuado de tribunal, só sobra uma solução: a saída dessas pessoas. Professor do ensino superior