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M. Eugénia Prata Pinheiro

sexta-feira, outubro 31, 2008

Trabalho abstrato

Deve resultar da formação da senhora. Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa – ISCTE. O trabalho já era e as empresas lá vão indo a pique pelo que as ciências dos ditos estão em agonia. Tentando manter-se à tona, esbracejam. Trabalho, trabalho …e promovem um conjunto de actividades inúteis. Nas escolas, para além do extravagante processo de avaliação de desempenho com enterro à vista, sobra ainda um complicado preenchimento de papelada que deixa todos à beira dum ataque de nervos. Recuso sempre este trabalho abstrato que só atrapalha as minhas tarefas.

É preciso explicar para que fique claro o absurdo da coisa. Eu vou dar uma aula de reforço aos alunos da minha turma para ele indicados. Faço sumário da aula no livro de ponto e aí indico os alunos com que trabalhei. Se não comparecer, a funcionária, que tem a indicação de que eu devia estar a trabalhar naquela sala àquela hora, marcar-me-á falta. Parecia tudo eficazmente controlado. Mas não. Inventaram umas folhas onde, finda a aula, devemos registar de novo o que registamos antes.

E podia continuar a tentar explicar este intricado processo de duplicados, triplicados, quadruplicados para todas as outras atividades.

Este ano inventaram mais uma ficha. Diz que é para registar as actividades não lectivas que já foram sendo registadas por aqui e por ali. Ainda não conheço esta última pessoalíssima fichinha. A própria fichinha deve ter pressentido o destino que lhe caberia se me saltasse para as mãos e teve o bom senso de não me assaltar.

Naturalmente que recuso sempre esta forçada "gaguez". Faço um registo e basta. Chamem a polícia, a ASAE ou os Kapos.

Um colega hoje, irritado, balbuciava – parece que não somos pessoas de bem.

Ora é isso mesmo que somos. Pessoas de bem. Não temos de nos sujeitar a isto. Não é esta a nossa tarefa. Não vamos gastar inutilmente o nosso tempo. Os kapos que se entretenham.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

"Ensinar a fingir

Ensinar é difícil. Exige virtudes que poucos seres humanos têm: paciência, humildade, curiosidade científica, sensibilidade pedagógica e didáctica, gosto em dar a saber a quem sabe menos, gosto pelo contacto humano com os estudantes. Acresce que não há métodos automáticos que garantam a excelência do ensino, tal como não há métodos automáticos que garantam a excelência da investigação. Exige-se perspicácia, maturidade, inteligência, criatividade, vistas largas.
A excelência do ensino depende exclusivamente dos professores. Algumas medidas do governo central podem potenciar ou estimular a excelência educativa, mas não podem criá-la por decreto. De modo que toda a intervenção do ensino que vise a excelência educativa tem de ser sobretudo um estímulo aos professores para fazer melhor.
E os professores não podem fazer melhor se não estudarem, pois o aspecto central da nossa falta de qualidade educativa é a pura falta de conhecimentos fundamentais que deviam ser solidamente dominados pelos professores.
A mentalidade portuguesa não facilita as coisas. Mal se tenta corrigir um colega, isso é encarado como arrogância, e não como um gesto de partilha. Mal se procura divulgar bibliografias adequadas, isso é encarado como tentativa de imposição ideológica de uns autores em detrimento de outros. Com esta mentalidade, é difícil criar ensino de qualidade.
Ao longo dos anos, e sobretudo ultimamente, o papel do Ministério da Educação tem sido largamente guiado pelo único tipo de coisa que os políticos e os burocratas conhecem: a realidade virtual. Não importa se os estudantes realmente aprendem, desde que se finja que aprendem e desde que não sejam reprovados. Também não interessa se os professores realmente ensinam, desde que preencham grelhas e formulários infinitos, para dar a impressão de que estão a trabalhar.
É que para a mentalidade burocrática e política, segundo a qual a realidade só tem densidade se estiver organizada num formulário, passar duas horas a ler um livro deve ser o cúmulo do desperdício de tempo dos professores. No entanto, para se dar uma revolução no nosso ensino bastaria que os nossos professores estudassem diariamente, durante duas horas, livros cientificamente sólidos sobre a sua área de actuação.
Um bom professor, seja de que matéria for, tem de dominar até à letra H se leccionar até à letra D. Não pode dar-se o caso de andar a leccionar até à letra H dominando apenas as matérias até à letra D. Mas não se deve encarar como escandaloso que um professor não tenha os conhecimentos que devia ter. Afinal, o mundo não é perfeito e as universidades que os formaram também não. O que importa é partir dessa realidade e fazer algo que seja construtivo.
E o que há de construtivo a fazer é, cooperando, criar estruturas que permitam que quem sabe mais e conhece melhor as bibliografias relevantes possa partilhar os seus conhecimentos com os colegas. Enquanto na escola não houver uma atitude de genuína partilha de conhecimentos, o ensino será só a fingir."

Desidério Murcho

in PÚBLICO, 10 de Junho de 2008

11:52 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Obrigada ao anónimo que me enviou o texto. Vou tentar publicá-lo. É preciso gritar que temos coisas muito mais importantes e interessantes para fazer que preencher e arquivar inútil papelada.
Na verdade o que se pretende é que as escolas sejam sítios de faz de conta.
Já conhecia o texto e julgo até que já o copiei lá para trás. Não fará mal repetir. Pelo contrário.

3:11 da tarde  

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