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M. Eugénia Prata Pinheiro

terça-feira, janeiro 11, 2011

E, no entanto, discute-se.

Pedro Lomba, no Público

Começo com uma pergunta: por que motivo o carácter de um político não pode ser discutido e julgado em democracia? Se não ocorre a ninguém abster-se de conhecer quem é o seu advogado, contabilista ou baby-sitter, por que deveria ser diferente com quem desempenha cargos políticos?

Eu sei de onde vem a confusão implícita na pergunta. Vem desta era socrática que dramaticamente baixou os nossos níveis de exigência. A toda e qualquer tentativa de escrutínio público, alguns seres pensantes e outros animados responderam com a ideia de que a questão do carácter tem de estar banida do debate político. Porquê? E como é possível existir debate sem que a questão não esteja de alguma maneira presente?

Esta diminuição parece tão fora de propósito que nem sequer resiste a um cursivo exame histórico. Se o carácter não fosse um tema legítimo, alguns dos mais famosos textos políticos acabariam no lixo da retórica do "terrorismo pessoal" e das "campanhas sujas" modernas. As Catilinárias de Cícero, proferidas no Senado de Roma contra o demagogo Catilina, seriam vistas como um baixíssimo "ataque pessoal". Quase toda a filosofia política medieval preocupada com a rectidão dos príncipes - "serás rei se fizeres o bem; se não o fizeres, não serás" - seria igualmente reprovada. E o que diríamos do discurso célebre e potentíssimo de impeachment dito e escrito por Edmund Burke contra o governador da Índia Warren Hastings, sobre quem pesavam suspeitas de corrupção e arbitrariedade? [...]